“É festa prá rachar, é uma coisa louca, vamos botar pra quebrar, no Berbigão do Boca”. Embalada pelo marcante hino-enredo, uma multidão de pessoas seguiu os tradicionais bonecos do Berbigão do Boca pelas ruas do Centro de Florianópolis na noite desta sexta-feira (21) e deu início ao carnaval 2025 da capital catarinense.
A programação começou às 14h com o concurso gastronômico, que elege os melhores pratos à base de berbigão. Depois, foi feito o cerimonial com a entrega das chaves da cidade ao Rei Momo, oficializando o início do Carnaval de Florianópolis.
Na sequência, a banda Quinteto S.A. embalou o público com músicas de diversos estilos, que foram dos tradicionais ritmos de Carnaval até o sertanejo. A apresentação encerrou no final da tarde, momento em que iniciaram as preparações para o cortejo.
Entre o público composto por gente de todas as idades, estavam novatos na festa, como o enfermeiro Adeilson Reis, natural de Palmas, no Tocantins. Ele conta que essa é a segunda vez em Florianópolis, mas a primeira no Berbigão do Boca, e que descobriu o evento por coincidência.
— Nós viemos pra um evento de trabalho, e acabamos nos deparando com essa festa maravilhosa, que tem muita família, crianças, idosos e um carnaval bem típico de rua. Nunca imaginávamos uma festa de pré-carnaval nessa proporção em Floripa, então superou muitas nossas expectativas — relatou o enfermeiro, que diz que pretende voltar em outros anos.
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ToggleVeja fotos da abertura do Carnaval de Florianópolis

Está oficialmente aberto o Carnaval de Florianópolis em 2025 (Foto: Nathalia Fontana, NSC Total)

Expectativa é de um público de 100 mil pessoas no Berbigão do Boca (Foto: Nathalia Fontana, NSC Total)

Apresentação da banda Quinteto S.A. na abertura do Carnaval de Florianópolis (Foto: Nathalia Fontana, NSC Total)

Prefeito fez a entrega da chave da cidade ao Rei Momo nesta sexta (21) (Foto: Nathalia Fontana, NSC Total)
No meio da multidão estava também quem não perde um Berbigão há dez anos. No caso da dona Rogeria Ferreira e do seu filho Fabrício Ferreira, é o marido — e pai — um dos principais motivos para serem presença registrada no evento. Como ele toca no tamborim do cortejo, a família está sempre presente no tradicional bloco de Florianópolis.
Mas, para além disso, a festa é um momento de encontro com amigos e família, degustar pratos de comida típica e também de curtir em um ambiente familiar e seguro, ambos contam.
— A gente gosta que é uma oportunidade pra comer frutos do mar, e daí a gente come no Mercado Público. A gente encontra amigos que às vezes a gente não encontra o ano inteiro — afirma o cirurgião-plástico Fabrício.
— Nós estamos gostando bastante, porque não tem muito exagero de pessoas bêbadas, falta de respeito, aquelas coisas muito agressivas, é para todo público, independente da idade — conta a professora aposentada.
Cortejo leva bonecos do Berbigão do Boca para as ruas de Florianópolis
Os tradicionais bonecos são marca registrada do Berbigão do Boca. Homenagem para os que já partiram e marcaram história na cidade, eternizados nas figuradas carregadas pelas ruas do Centro histórico. Nesse ano, são 43 bonecos ao todo, sendo que a homenagem especial vai para Seu Lidinho, passista do Carnaval de Florianópolis que faleceu no ano passado.
— A homenagem do Seu Lidinho é coisa que tem emociona a gente. Mas a festa, ela é carnavalesca, mas é muito das tradições de Florianópolis. Nós temos então as rendeiras, nós temos diversas alas. E tem o Bloco Místico, aquele que traz o misticismo do Ilhéu, que foi estimulado por Franklin Cascaes, Meyer Filho e César Neto, os nossos três grandes bruxos — conta Leonardo Garofalis.
A partir das 19h, o cortejo partiu do Largo da Alfândega, e seguiu pelas ruas Deodoro, Tenente Silveira e Arcipreste Paiva, que se transformaram em um mar de pessoas, cores e alegria. As diferentes alas embalaram a festa, com dançarinos, rainhas, músicos, o carro de som e os famosos bonecos seguidos do público que curtia a festa.

Sidnei carrega boneco do pai há 18 anos (Foto: Nathalia Fontana, NSC)

Boneco do Seu Lidinho, homenageado nesse ano (Foto: Nathalia Fontana, NSC)

Público curtindo atrações musicais (Foto: Nathalia Fontana, NSC)

43 bonecos desfilaram esse ano (Foto: Nathalia Fontana, NSC)

Carro de som embalou a noite (Foto: Nathalia Fontana, NSC)

Bonecos são feitos por Alan Cardoso (Foto: Nathalia Fontana, NSC)

Ala das rainhas no cortejo (Foto: Nathalia Fontana, NSC)
Quem comanda a criação dos bonecos é o artista plástico Alan Cardoso. Ele explica que o processo desde a idealização de um dos bonecos até a finalização da obra dura entre dois e três meses. Segundo Alan, a tradição representa a continuidade das figuras importantes para a cidade.
— Fazer os bonecos é uma honra. A gente fica, olha a foto, imagina, até que sai. Então é vida após a morte, nasceu o personagem, e ele é eternizado através do Berbigão do Boca. Então temos já 43 bonecos e tem artista plástico, tem sambistas, tem rei Momo, tem boneco que são irmãos — relata Alan.
Entre as 43 pessoas eternizadas, Alan destaca alguns que representam uma grande emoção pela proximidade que tiveram com ele em vida, como o artista plástico Meyer filho, que foi seu amigo próximo, e Franklin Cascais, seu professor.
Entre as histórias contadas pelos bonecos está a de Carlinhos da Tuba, e seu filho, Sidnei de Paula, o Jamaica. Há 18 anos, o filho leva o boneco do pai no cortejo e mantém viva a memória do músico que fazia parte da banda do Berbigão.
— Pra mim, eu digo, é um prazer imenso, sempre. Enquanto eu tiver saúde, eu vou estar sempre participando dessa equipe maravilhosa que me convenceram a continuar levando ao meu pai — afirma Sidnei.
O pintor conta que no primeiro ano do boneco, não quis desfilar, e que até então não tinha envolvimento com o Berbigão. Foi a própria equipe que convenceu ele a assumir esse papel, que ele destaca a importância como de manutenção de um legado.
— É maravilhoso, para continuar o legado que cada um deixou, para continuar em frente, né? Isso que é importante, é continuar a brincadeira. E não vamos deixar morrer essa história, dessas pessoas boas, que participaram e contribuíram com Berbigão do Boca — diz.